Os veículos autônomos já vêm sendo testados nas ruas – o Google, por exemplo, testará um novo protótipo na Califórnia no próximo verão -, e a concretização dessa tecnologia se aproxima de nós. Empresas estimam que em 2020 já tenhamos carros autônomos circulando pelas ruas mundo afora. Mas a que pé andam essas pesquisas no Brasil?
O cenário de filmes futuristas, ilustrado por carros que se movem sozinhos e robôs capazes de agir por conta própria, parece muito distante de nossa realidade. Mas acredite, existem pessoas no mundo todo realizando pesquisas para tornar esses avanços tecnológicos possíveis o quanto antes. As pesquisas sobre carros autônomos, por exemplo, estão em andamento já há 30 anos ao redor do mundo. Empresas como Google, Uber e Baidu, além de empresas do setor automobilístico, como Volkswagen e BMW, são fortes exemplos de investidores e pesquisadores desse tipo de tecnologia.
Denis Wolf é professor associado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação na Universidade de São Paulo – ICMC/USP e coordenador do Laboratório de Robótica Móvel – LRM. Desde 2011, encabeça as pesquisas do carro autônomo chamado pelo grupo pelo nome de Carina, sigla para Carro Robótico Inteligente para Navegação Autônoma. “A gente trabalhou de seis a oito meses em modificações mecânicas nele, tivemos que colocar uma porção de motores e realizar mudanças para que ele pudesse ser controlado de forma eletrônica. A partir desse momento, a gente passou a trabalhar na parte mais importante do projeto, que é o desenvolvimento de programas de computador que possam tomar decisões como o motorista humano toma. Essa parte com certeza é a mais difícil.” Carina já chegou a fazer testes nas ruas e Denis conta que o próximo passo é fazer um serviço de taxi autônomo dentro do campus da universidade. Os primeiros testes já devem ser realizados no próximo ano.
Enquanto isso, em Belo Horizonte, o Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento de Veículos Autônomos da UFMG, do qual o professor Guilherme Pereira é membro e fundador, avança em direção um pouco diferente. Tendo iniciado as pesquisas de carros autônomos em 2007, atualmente o projeto em desenvolvimento em parceria com outras universidades é o de pequenos aviões autônomos. “Um dos nossos objetivos é fazer inspeção ambiental. Lá na Amazônia tem esses problemas de desmatamento, então estamos desenvolvendo um avião pequenininho que pode ser lançado com as mãos e possui uma câmera. Ele sobrevoa a floresta e consegue filmar e mostrar as áreas com problemas. A ideia é trabalhar com vários simultaneamente, para fazer uma cobertura rápida das áreas”.
Apesar dos direcionamentos diferentes, os grupos de Guilherme e de Denis enfrentam a mesma dificuldade: a falta de recursos financeiros. Ambos os projetos dependem de apoio público. O Carina conta com o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), enquanto o projeto do grupo de Guilherme conta com financiamento da FINEP (Finaciadora de Estudos e Projetos). “O que notamos após conversarmos com as montadoras é que todas investem em pesquisas desse tipo em suas matrizes fora do Brasil. O que a gente faz aqui no Brasil é muito mais montar o veículo do que desenvolver tecnologia. Então, as mesmas montadoras que montam aqui, desenvolvem pesquisas nos Estados Unidos, na Alemanha, na Itália, na França, mas as matrizes acabam não financiando pesquisas fora de seus países de origem”, explica Denis. Para o professor, ainda levará algum tempo para que as indústrias brasileiras invistam em veículos autônomos para uso pessoal. No entanto, já relata o interesse do setor agrícola em tecnologias específicas para serem adaptadas nessa área. Guilherme contrapõe, trazendo uma possível mudança no cenário automobilístico no Brasil nos próximos anos. “Agora tem uma lei nova chamada Inovar-auto, em que o governo permite que as empresas cedam parte dos impostos que as empresas automobilísticas deveriam pagar para investir em pesquisas de desenvolvimento. As empresas ainda não estão adaptadas, mas nos próximos anos elas devem se desenvolver nesse sentido”.
Apesar das previsões de que teremos carros autônomos prontos para uso próprio daqui cinco anos, outras questões envolvem o uso dessa tecnologia, principalmente no Brasil. A primeira delas, levantada por Denis, refere-se à adaptação da legislação, que pode ser um processo bastante lento. “Todos os modelos de seguro que a gente tem hoje vão ter que ser repensados porque, se o motorista não é mais o responsável por dirigir, ele não vai arcar com os custos de um acidente. A legislação em outros países já está avançando rápido. Nos EUA, alguns estados já permitem testes.
Na visão de Guilherme, em 20 anos é provável chegarmos a um cenário em que os carros andem parcialmente sozinhos, como em estradas ou com funções específicas que facilitem a direção no dia a dia, como desviar de buracos.